sábado, 29 de agosto de 2015

Da Bauhaus ao nosso caos!


Este é o título de um livro escrito por Tom Wolfe, autor do também conhecido, “A fogueira das vaidades”, que descreve o horror de pessoas que habitam ou trabalham em prédios modernistas, conhecidos popularmente por caixas de vidros... Ás vezes limpos demais, brancos demais, vazios demais.
Então, com o pavor deste vazio, contratam logo um decorador, que o preencha com ‘coisas demais’. Antagônico, contraditório, insensato?
Por vezes sou obrigada a concordar que algumas coisas desandaram e perderam o rumo, vejo alguns horrores sendo construídos, ganhando altura e forma. O que diriam Le Corbusier, Mies van der Rohe, Walter Gropius ou Frank Lloyd Wright? (se estivessem aqui)
Talvez pensariam tratar-se de uma civilização pré Bauhaus, algo anterior aos pensamentos que levaram ao movimento. Difícil seria explicar que se trata do próprio caos. E que embora vivam no século XXI e tenham sentado em um banco de universidade bem depois do modernismo, não saibam dizer única palavra sobre o movimento e que -com mil perdões- sequer ouviram falar dos senhores.
Triste realidade!
Claro que não falo de todos, com as graças dos céus, mas de uma grande quantidade de pessoas que se tornaram arquitetos e designers por obra do acaso. Que não trazem nas veias aquela inquietação que procura pela proporção que conforta, pela linha que seduz, pelo efeito que a sombra e a luz provocam na alma, quando revelam o efeito da textura no objeto arquitetônico...
...ah, Gustavo Penna...quem dera todos fossem poetas das formas, como você!
Arquiteto e Ubarnista - Gustavo Penna
Imagens do Memorial da Imigração Japonesa
Projeto residencial de Gustavo Penna - fotografia de Jomar Bragança
Projeto residencial de Gustavo Penna - fotografia de Jomar Bragança
Projeto residencial de Gustavo Penna - fotografia de Jomar Bragança
Projeto residencial de Gustavo Penna - fotografia de Jomar Bragança
Projeto residencial de Gustavo Penna - fotografia de Jomar Bragança
Projeto residencial de Gustavo Penna - fotografia de Jomar Bragança
Nem além e nem aquém, mas na medida exata...esta é a tradução do que vejo nas obras deste arquiteto mineiro, um representante digno da frase de Mies van der Rohe, "menos é mais."
E pra não dizer que não fiz a minha parte, lanço aqui esta provocação, para mexer com todos nós:
O problema não está na falta ou no excesso, a questão mais grave é o desconhecimento...
BAUHAUS
É o nome de uma escola de arquitetura, que começou com um movimento de artistas e intelectuais europeus que viram a Primeira Grande Guerra, como sinal de uma irracionalidade sem precedentes.
Detalhe da casa de Gropius, projeto de sua autoria.
Fundada em 1919 por Walter Gropius, com o objetivo de formar profissionais em arquitetura e design que tinham como principio, a funcionalidade racional dos objetos e espaços habitáveis. "A forma segue à função", ou seja, a forma é resultado da funcionalidade do objeto ou do espaço. Para a mentalidade racionalista da época o ornamento não tinha mais lugar na funcionalidade do objeto.
Frank Lloyd Wright e estudantes da Bauhaus
A ordem era despir as formas de ornamentos e excessos.
A intenção foi traduzida na palavra de ordem de arquitetos e designers da Bauhaus como: "menos é mais".
Mies van der Rohe
Esta frase era como um mantra sempre repetido pelo sucessor de Gropius na direção da Bauhaus.
Mies Van Der Rohe, que deixou a Alemanha em 1937 e, nos EUA, foi reconhecido como pioneiro da arquitetura moderna. Influenciado pelo Expressionismo, Suprematismo e Construtivismo russo, seu estilo era definido por ele mesmo como “pele e osso”. Uma técnica perfeita em detalhes, uma abordagem racional, com “limpeza” da forma e preceitos minimalistas.
O vidro é um elemento muito importante nos trabalhos de Mies. A casa Farnsworth, também chamada de casa de vidro, localizada nos EUA, traz transparência no vidro, fluidez de espaços, linhas mínimas e a sensação de que sua estrutura flutua.
Nas três últimas imagens aparecem parte do mobiliário que tem design do arquiteto, são peças consagradas e que antes da autorização de sua fabricação em escala industrial, tinham um preço muito elevado e por isto sua comercialização se restringia a uma pequena parte de pessoas que podiam pagar por elas, hoje são mais acessíveis e não é raro ver móveis com desenho destes grandes nomes em lojas de bom gosto.
Linha Barcelona Chaise lounge Cadeira com desenho de Mies Outro modelo de cadeira por Mies
A casa Tugendhat, construída em 1930 na Tchecoslováquia, além do vidro e de materiais nobres, traz um estilo requintado e alto padrão especialmente em seu mobiliário, todo assinado por ele.
O que mais me encanta em seu trabalho é o fato de que ele buscava uma conexão visual, trabalhando para que o ambiente externo e interno não fossem delimitados claramente, criando assim uma integração entre os espaços. Esta sensação de que o homem está ao mesmo tempo protegido, mas se encontra livre para mirar o horizonte e seguir adiante sempre.
Neste projeto do Pavilhão da Alemanha, construído em Barcelona, podemos perceber toda a sutileza dos traços e princípios do modernismo e saborear sua essência em cada pequeno detalhe.
O fato de ter em seu quadro de professores, artistas do tamanho de Wassily Kandisnky e Paul Klee evidenciam a aliança entre a arquitetura, design e a arte.
Esta questão fez com que a Bauhaus imprimisse status de arte a toda era modernista.
Estudei e me formei em uma Escola de Artes, FUMA - Fundação Universidade Mineira de Arte, o que vivi naquele espaço, cercada daquela gente produz até hoje frutos do que absorvi em livros, palestras, aulas, práticas, exposições, projetos e desenhos...do que vi, ouvi e senti...
Podem dizer o que quiser, sou modernista até o último fio de cabelo, acho arte fundamental e sou fã incondicional deste movimento, o que me desespera é ver o fio do novelo perdido, no caos de cópias do nada...que não instigam, que não traduzem e não me dizem coisa alguma. Prefiro um espaço vazio com arte do que o excesso de objetos sem linguagem, o igual está em toda esquina e eu quero ser INCOMUM!
OBS: Esta matéria tem continuidade.